Lá
vai ela, todos os dias na sua rotina, sempre com sua mochila nas costas.
Chegando
do colégio com as mãos enfiadas nos bolsos do seu moletom surrado, seu tênis
AllStar seu companheiro de varias viagens. Sempre cabisbaixa, com o capuz do
seu agasalho cobrindo seus cabelos.
Com
fones nos ouvidos, talvez escutando alguma musica da Legião urbana ou algum
hard core do Nirvana.
Ela
parece carregar todo conhecimento do mundo nas costas. Seu jeito fechado na
verdade é para disfarçar sua timidez. Mas sempre trazia em seu olhar uma
felicidade contida.
Em
seu caminho para casa, sempre via dois conhecidos tocando violão, ela passava
por eles escutando as batidas. Ela gosta do som, mais nunca teve coragem de
parar para dizer o quanto era bom escutar aquelas melodias. Ao invés disso ela
cumprimentava com um leve sorriso e aumentava o passo.
Isso
a deixava irritada, essa timidez estragava tudo.
Quem
sabe um dia? Pensou baixinho. Prosseguiu seu caminho apressada.
Em
sua casa, corria para o quarto e se jogava em sua cama, viajava em seus
pensamentos enquanto via os pôsteres de sua banda predileta, se imaginando
fazer parte dela.
Foi
quando ela teve uma idéia, iria escrever uma musica.
Ela
imaginava as batidas do violão e ia montando as letras, formando uma canção. E fez
isso por dias, rasgava as folhas e voltava a escrever até a musica ficar
pronta.
Dentro
da sala de aula ela não conseguia conter a ansiedade, não via a hora do sinal
de saída bater.
Finalmente
a aula tinha acabado, juntou seus materiais, colocou em sua mochila e saiu
apressadamente da sala.
Hoje
sua rotina seria diferente, hoje ela deixaria sua timidez de lado.
Chegando
na rua avistou seus colegas tocando violão, e naquele momento pensou em passar
direto e esquecer toda besteira que tinha planejado.
Contrariando
a si mesmo parou na frente deles e disse: "oi"
-
Oi, e aí como você tá? Perguntou um deles
-
Tô bem! Respondeu ela com o rosto corado de vergonha
-
E aí, como foi a aula? Perguntou o outro.
-
Foi normal, aquela chatice de sempre.
-
Chata, isso é verdade, eles concordaram e riram.
Ela
resolveu tomar a iniciativa.
-
Sabe, sempre que passo por aqui e vejo vocês tocando violão, e escrevi uma música,
queria que vocês dessem uma olhada nela.
-
Legal, deixa a gente dar uma olhada.
Os
dois pararam de tocar e começaram a ler a música.
Ela
ficou apreensiva com o silencio dos dois, sentia vergonha. E se eles não
gostassem? E se os dois começassem a rir do que ela tinha escrito?...
-
Cara gostei!
-
Verdade, muito boa essa música, foi você mesmo que escreveu?
-
Sim!Respondeu ela se segurando por dentro para não gritar de alegria.
-
Podemos tentar tocar ela agora, o que acha?
Sem
acreditar ela quase perdeu a voz.
-
Sim claro!
-
Então vamos começar!
Eles
começaram a tocar os violões, parecia que já sabiam o ritmo certoda música.
Foi
quando ela viu um dos rapazes dando a deixa para ela começar.
Ela
pensou que ficaria travada, que sua voz fosse sumir. Criou coragem e resolveu
começar.
No
princípio sua voz saiu baixa, sem segurança, e pensou que estragaria tudo.
-
Espera um pouco! Disse um dos rapazes.
-
Relaxa, se solta, deixe a música fluir através de você!
-
Tá vou tentar novamente!
Começaram
com a introdução. Ela fechou os olhos e começou a cantar, dessa vez sua voz
estava em harmonia com o som.
A
sintonia era completa, a voz, os violões.... Sua voz suave parecia sincronizar
com tudo ao redor, ecoava entre as casas os carros as arvores e até entre as
pessoas que passavam pela rua.
Enquanto
cantava sentia brisa do vento tocar seu rosto. Aquele momento se tornou magico,
parecia a celebração da sua vida.
Aos
poucos as pessoas começaram a parar para escutar aquela canção. Sua música por
algum momento, fez com que elas se esquecessem dos seus problemas, de seu
corre-corre apressado de suas rotinas maçantes. Parecia que sua música estava
mexendo com o sentimento das pessoas.
O
cinza da cidade ficou colorido. O tempo parecia parar contracenando com o
instante único que sua voz estava proporcionando.
Não
teve vergonha das pessoas ao seu redor, ela só queria cantar, só queria mostrar
através da música sua alegria, sua gratidão pela vida, queria sentir o clima,
sentir seu corpo leve era capaz até de sentir tua alma em paz.
De
certa forma ela tinha vencido seu medo, tinha provado, não para pessoas, mais
provado a si mesmo sua capacidade.
Quando
a canção terminou, se sentiu leve como um pássaro, seus amigos que tocavam
violão ficaram boquiabertos. As pessoas aplaudiram pelo momento que
presenciaram. Seus olhos estavam marejados, seu coração pulsava forte, estava
feliz.
E
naquele momento ela não era mais aquela garota tímida.
Teco Garces